Será que todos conseguem enxergar o poder que os ambientes exercem sobre as rotinas humanas? James Clear, escritor e palestrante especialista em hábitos, tomada de decisões e melhorias, autor do livro Atomic Habits que já vendeu mais de 5 milhões de cópias ao ser traduzido para cerca de 50 idiomas, criou uma expressão muito interessante para o ambiente: a Mão Invisível.
Clear afirma: “O meio ambiente é a mão invisível que molda o comportamento humano. Apesar de nossas personalidades únicas, certos comportamentos tendem a surgir repetidamente sob certas condições ambientais“. Essa definição faz parte do livro que o tornou famoso em todo o mundo e que já foi pauta de diversas matérias em grandes mídias, a exemplo da Forbes.
Outro trecho da publicação traz um exemplo. “Muitas vezes as pessoas escolhem produtos não pelo que são, mas por onde estão. Se eu entrar na cozinha e ver um prato de biscoitos no balcão, pegarei meia dúzia e começarei a comer, mesmo que não tenha pensado neles antes e não necessariamente sinta fome. Se a mesa comunitária do escritório estiver sempre cheia de donnuts, será difícil não pegar um de vez em quando. Seus hábitos mudam dependendo da sala em que você está e das dicas à sua frente“.
O que o especialista enfatiza é algo que sempre comentamos aqui no Espaço do Arquiteto. Não há ambientes neutros. Todo espaço desperta algum tipo de sensação e de emoção em seus ocupantes. E os profissionais dedicados a planejar ambientes de trabalho podem (e devem) usar isso a seu favor.
Caminhando para os impactos do ambiente construído na rotina dos trabalhadores, Clean entra no quesito “produtividade”. No livro, ele declara: “Tendemos a acreditar que nossos hábitos são produto de nossa motivação, talento e esforço. Certamente, essas qualidades são importantes. Mas o surpreendente é que, especialmente durante um longo período de tempo, as suas características pessoais tendem a ser dominadas pelo ambiente”.
O que podemos entender como “um longo período de tempo”? Uma jornada de trabalho que, normalmente no Brasil, gira em torno de 8 horas e se consolida como ⅓ do dia de cada um de nós pode, sim, ser considerada como um longo período de tempo.
Portanto, é altamente produtivo desenhar ambientes voltados a comportamentos específicos. Isso significa ter no escritório um local silencioso e privativo para atividades que exijam alta concentração; ter espaços onde o objetivo está em estimular as atividades colaborativas e a troca de conhecimentos, compostos por bancadas compartilhadas, sofás, pufes ou arquibancadas; ter um bom refeitório, onde as pessoas voltem sua atenção à realização de refeições de qualidade; e ter – quebrando paradigmas de que pausas na jornada são ineficientes – locais para descanso mental e físico com vista para áreas externas, estratégias do design biofílico, jogos ou tapetes para prática de meditação.
E, claro, antes de pensar nessas alterações, é preciso fazer uma leitura estratégica da empresa, um diagnóstico de como são as equipes e as atividades que elas desenvolvem, para então entender quais são as demandas e, assim, planejar como a “mão invisível” vai dar aquela força para a motivação e a produtividade dos colaboradores.