Se formos nos basear na etimologia da palavra, vernacular significa particular, característico de um país ou região. Assim, arquitetura vernacular seria aquela que prioriza as referências do local onde está inserida, utilizando recursos tradicionais daquele ambiente e garantindo uma identificação entre o ambiente interno e o externo.
No contexto corporativo, a aplicação da arquitetura vernacular tem um papel bastante importante: garantir o conforto, o bem-estar e a saúde dos trabalhadores, motivando os times e incentivando a progressão da produtividade.
Além de tudo, há quem diga que a arquitetura vernacular tem papel fundamental na construção de edifícios sustentáveis, uma necessidade latente em um mundo onde a crise climática torna o futuro incerto. Matéria do ArchDaily diz, por exemplo, que “condutas arquitetônicas milenares estão sendo reproduzidas em projetos que visam a diminuição do uso de energia com estratégias de conforto termoacústico, emitindo o mínimo possível de CO2 no meio ambiente”.
Lembrando que a história arquitetônica brasileira tem raízes na cultura indígena, muitas das estratégias usadas na arquitetura contemporânea podem ter fundamentos dos nossos antepassados. Inclusive quando o assunto é sustentabilidade e redução do impacto da nossa existência no planeta.
O Centro Sebrae de Sustentabilidade instalado em Cuiabá, no Mato Grosso, é um bom exemplo de como introduzir tecnologias construtivas indígenas na atualidade. O edifício conta com uma cobertura formada por duas casacas de concreto espaçadas que permitem a existência de um colchão de ar que mantém o ambiente a uma temperatura agradável. Essa tecnologia, segundo o ArchDaily, foi inspirada nas construções indígenas formadas por camadas de palha que também promovem o conforto térmico. Por conta disso, o prédio venceu diversas premiações entre 2013 e 2018, como o prêmio de Melhor Edifício Sustentável das Américas (BREEAM Awards), o Procel Edifica e o GBC Brasil Zero Energy.
Pensando na arquitetura corporativa, o que pode ser definido como arquitetura vernacular com inspirações indígenas?
A era moderna preza por designs mais orgânicos, com formas curvas, arredondadas e menos angulares. Essa tendência remete à natureza e tem base, também, nas ocas das comunidades indígenas, sempre mais fluidas, redondas e com layouts que se misturam aos formatos da floresta. Ainda nesse contexto, podemos mencionar, também, a utilização de tons terrosos e mais naturais, bem como o uso de madeiras cruas e revestimentos em pedra ou cortiça.
Outro apontamento interessante de ser feito diz respeito à necessidade, dentro dos escritórios, de criação de espaços voltados à interação entre os colegas de trabalho. Entre os povos originários, é comum que as habitações sejam dispostas em um formato ortogonal para ser formada uma praça central onde a comunidade promove encontros para atividades cotidianas em grupo (como cerimônias e rituais sagrados).
Nas empresas, é indicado que algumas áreas acessíveis por todos os departamentos sejam voltadas aos encontros casuais, o que fortalece os vínculos interpessoais fundamentais à saúde mental dos seres humanos.
Há quem cite, também, que os jardins verticais têm inspiração nas comunidades indígenas que utilizavam de amarrações para ornamentação de suas ocas e malocas. Em matéria do portal da FNA (Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas), Liza Andrade, professora da UnB diz: “A arquitetura indígena pode nos ensinar sobre ‘ser’ parte da natureza. A construção e os espaços construídos não são separados das pessoas, mas são parte da construção da vida delas conectados ao meio ambiente e ao espaço natural”.
Essa fala reflete exatamente o que os ambientes corporativos buscam hoje em dia: construções feitas por seres humanos, para seres humanos que sabem que são parte da natureza e sentem-se acolhidos e saudáveis quando estão mais próximos a ela.
Aos interessados em se aprofundar no tema, há uma publicação bastante relevante disponível no mercado. Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World é um livro de 1997 de Paul Hereford Oliver, historiador inglês conhecido internacionalmente por seus estudos sobre o tema. Na obra, o especialista compartilha conceitos e métodos da arquitetura vernacular, bem como conhecimentos tradicionais, vigências e usos contemporâneos.