Agora que a vacinação está avançando em todos os países, permitindo um maior controle da pandemia de COVID-19, sabemos – e concordamos – que o retorno aos escritórios está acontecendo, mas com mudanças bastante impactantes do ponto de vista corporativo. O cenário de antes da crise não voltará de forma imediata, assim como é inviável pensar na manutenção completa do home office. Foi então que abraçamos a ideia de que o modelo híbrido de trabalho – mais flexível para que as pessoas dividam seu tempo produtivo entre horas no escritório e horas remotas – é o que mais se encaixa para esse futuro próximo.
Mas será que existem mais alternativas para planejarmos os próximos meses?
Uma matéria publicada recentemente na Harvard Business Review pode trazer ainda mais clareza sobre o futuro do ambiente de trabalho. Para isso, especialistas utilizaram cases de um país que soube muito bem como lidar com o novo coronavírus mesmo antes da disponibilidade de vacinas: a Austrália. Por lá, sabendo que a vacina demoraria para chegar, os governantes fecharam as fronteiras, bloquearam as viagens interestaduais, impuseram ordens de permanência em casa e investiram em um amplo rastreio dos infectados e seus contactantes. Assim, conseguiram se tornar exemplo, com poucos óbitos durante todo o período de crise.
Segundo a publicação, a evolução do país pode nos dar bons indícios do futuro do trabalho. Em outubro de 2020, após flexibilização de algumas medidas, 7% dos trabalhadores de Melbourne tinham retornado às atividades no ambiente de trabalho. Com a virada do ano, o cenário foi sendo ampliado. Em abril, 41% dos trabalhadores já estavam nos escritórios e, em cidades menos afetadas como, por exemplo, Perth e Adelaide, 70% dos profissionais já não mais trabalhavam remotamente. Mas o que justificaria esse aumento repentino da presença nos escritórios assim que as rígidas regras de isolamento caíram? O que a matéria explora é que as pessoas estão cansadas da pandemia e sentem necessidade de ter um ambiente preparado, com infraestrutura adequada e conforto para trabalhar e desempenhar suas atividades.
Porém, nem todas as empresas estão adotando o mesmo modelo de trabalho no momento. Analisando o cenário da Austrália, a matéria da Harvard Business Review segmenta o retorno aos escritórios em cinco categorias principais. Vamos destacar e explicar cada uma delas!
- Modelo 1 – Padrão antigo – Na Austrália, isso representa uma rotina já conhecida, onde os funcionários se encontram todos os dias no escritório para jornadas das 9h às 17h. As mudanças estariam focadas apenas em mais higienização do espaço (devido aos aprendizados da COVID-19) e um pouco de flexibilização. Mas a centralização do trabalho no ambiente corporativo estaria de volta.
- Modelo 2 – Clubhouse – Aqui teríamos o famoso modelo híbrido de trabalho, que de fato acreditamos que é o que o Brasil verá nos próximos meses. Nesses modelos, os trabalhadores se revezam entre atividades no escritório e atividades remotas. Deixa de ser um modelo centralizador para assumir uma postura mais social, ou seja, o ambiente de trabalho se torna o local aonde as pessoas vão para se encontrar, fazer reuniões, atividades em conjunto e socializar. O restante que pode ser feito individualmente, segue sendo feito de forma remota. Entre os trabalhadores australianos, segundo a publicação, foi o modelo mais popular.
- Modelo 3 – Trabalho baseado em atividades – Aqui podemos usar, como exemplo, o escritório multispace (se não conhece o conceito, clique AQUI para saber mais). No caso, os funcionários frequentam o escritório, mas não para uma rotina fechada e padronizada de chegar, sentar em sua mesa, desenvolver todas as suas atividades ali e ir embora. Com um espaço múltiplo, ele seleciona as atividades daquele dia e vai para o escritório a fim de desenvolvê-las, visto que há toda uma infraestrutura para atender qualquer necessidade (trabalho solitário e que exige concentração, trabalho em grupo, reuniões presenciais, videoconferências com quem está distante, etc). Um exemplo de como esse modelo impacta a estrutura: na Austrália, antes da pandemia, os escritórios multispace tinham oito mesas de trabalho para cada dez funcionários. Com a tendência de que as pessoas passem a frequentar outros ambientes dentro do escritório, há a perspectiva de que esse número reduza para cinco mesas a cada dez funcionários.
- Modelo 4 – Hub – Fim do tenso deslocamento. Em vez de um único escritório instalado em zonas mais comerciais, o que exige deslocamento as vezes bastante intenso das pessoas, algumas empresas apostam em um escritório central e outros hubs espalhados pela cidade. A ideia faz sentido, visto que com o home office, as pessoas se deram conta de que o deslocamento pode ser um perrengue, principalmente em megalópoles como São Paulo e Rio de Janeiro. Paralelamente, elas estão exaustas de trabalhar em casa, com todas as demandas domésticas acontecendo. Os hubs surgem como excelentes ideias para esses casos, pois oferecem menos deslocamento, infraestrutura completa e adequada e interação com colegas.
- Modelo 5 – Virtual e remoto – Esse modelo trazido pela Harvard Business Review, onde toda a interação é virtual, não há espaços corporativos para encontros entre os trabalhadores, é o que menos soa possível. Durante a pandemia, muitas pesquisas foram feitas com funcionários e uma reclamação foi constante: “sinto falta do contato com meus colegas”. Tanto que, segundo a publicação, essa alternativa foi a menos popular, com menos de 20% das pessoas interessadas em segui-la.
Agora vamos pensar como o profissional dedicado à elaboração de projetos corporativos pode apoiar seus clientes na escolha do melhor formato de trabalho? Além de apresentar essas alternativas, que nem sempre são pensadas pela alta diretoria, o arquiteto ou designer de ambientes pode mergulhar na cultura da empresa para entender como ela funciona, quais têm sido as atividades desenvolvidas, e quais são as principais necessidades de todos os times. Na sequência, é possível avaliar as possibilidades de migração de espaços, a infraestrutura já existente e os investimentos em mudanças.
Com todas essas informações em mãos, somadas ao conhecimento do comportamento humano e de tantas pesquisas feitas ao longo do último ano para entender tanto as expectativas das empresas quanto dos funcionários, é possível tomar uma decisão estratégica.