Arquitetos que desenvolvem projetos empresariais precisam estar atentos às dinâmicas desse mercado tão mutante. Então é hora de falar sobre o ecossistema de negócios. Para adentrarmos essa temática que cresce a cada dia no meio corporativo e chegarmos às contribuições da arquitetura, vamos primeiro explicar um pouco mais sobre ela. Trata-se de um modelo cada vez mais importante e relevante para os negócios em todo o mundo, visto que faz com que as organizações cresçam por meio de uma economia de rede integrada. A proposta é agregar fornecedores, clientes e parceiros, em um ciclo de geração de valor.
Esse é um mecanismo que começou a ganhar corpo há algum tempo e promete crescer a passos largos (e rápidos). Atualmente, a economia de rede integrada está entre 1% e 2% em todo o mundo, mas em 2030 pode chegar a representar 25% da economia total. A informação é da consultoria norte-americana McKinsey, que reforça que esse modelo de ecossistema é cada vez mais importante e relevante.
Assim, muitas empresas, de todos os tamanhos e setores, começaram a desenvolver ofertas de ecossistemas e os mercados financeiros reconheceram o poder desse movimento. Mas, essa mudança é um desafio. E é justamente aqui que podemos agregar o poder da arquitetura corporativa.
Para abrir as portas para um ecossistema de negócios, primeiramente as empresas precisam olhar para dentro, para os seus próprios ambientes. E aqui não há como não pensar nas estruturas das forças de trabalho que possibilitarão esse fluxo de negócios. Dessa forma, o primeiro passo para a empresa que está iniciando essa transformação está na reestruturação interna. As equipes que serão responsáveis pela construção dos relacionamentos devem ter suas demandas atendidas e devem estar unidas no mesmo propósito, motivadas e em busca de um objetivo comum: resultados.
Se até 2030 tantas empresas estarão focadas no modelo de ecossistema de negócios, elas precisam começar já a se movimentar para entrar no ritmo. Principalmente com os últimos desafios criados pela pandemia de COVID-19, que separou fisicamente os times impossibilitando a troca diária e a sociabilidade tão importantes para a motivação e o desenvolvimento.
E, quando a empresa tem seus espaços já pensados dessa forma, as equipes entram nessa cultura interna ativa, tornando todos os processos muito mais propícios para serem integrados aos ecossistemas externos, de parceiros, fornecedores e clientes. Assim, para que arquitetos possam se inspirar no conceito de ecossistema na hora de construir seus projetos corporativos, façamos, então, uma alusão aos conceitos criados pelo educador austríaco Fritjof Capra e a arquitetura corporativa. Confira!
1. Interdependência
Na sociedade, o comportamento de um indivíduo está atrelado ao comportamento do outro. Assim, dentro de uma empresa que preza por um ecossistema saudável, as relações interpessoais precisam ser reforçadas para que o sucesso seja alcançado. Agora que as companhias estão retomando, aos poucos, a ocupação dos escritórios é um momento ideal para uma adequação dos espaços corporativos focados na sociabilidade. Além dos trabalhadores estarem sentindo falta dessa interação entre as equipes, esse contato será essencial para a sustentabilidade desse ecossistema.
2. Reciclagem
Capra fala sobre a reciclagem da matéria utilizando, como base, o fato de que a natureza é cíclica enquanto nossas atividades acabam sendo lineares. Para o especialista, o ideal é que sigamos o mesmo perfil do meio ambiente, ou seja, que saiamos de um projeto linear para um circular. Dentro dos ambientes corporativos esse conceito pode ser espelhado justamente pelo layout mais aberto, que reduz o conceito de hierarquia e coloca todos em um mesmo patamar permitindo que as informações circulem mais e, assim, sejam fator para o sucesso dos negócios.
3. Parceria
Para o educador, parceria é essencial para a sustentabilidade das comunidades. E o mesmo ocorre no ambiente corporativo. A cooperação generalizada, onde cada membro da equipe entende seu papel e corrobora com o propósito do grupo, garante resultados positivos. Para isso, espaços colaborativos e que estimulam a criatividade são excelentes. Em vez de postos fixos de trabalho totalmente isolados, bancadas para trabalho em conjunto, mais salas para reuniões informais e até mesmo refeitórios e locais para descontração.
4. Flexibilidade
A flexibilidade é uma das ações responsáveis por garantir o equilíbrio do ecossistema mesmo quando alguma ponta se descompensa. E esses momentos de descompensação ocorrem o tempo inteiro tanto na natureza quanto nas companhias, visto que as empresas são mecanismos vivos e devem sempre ser encaradas dessa forma. Portanto, um ambiente de trabalho flexível, que atende às necessidades mais particulares de cada membro, consegue atingir o equilíbrio com mais facilidade. E isso significa, por exemplo, reduzir as jornadas fixas, permitindo horários mais alternativos, e apostar em um local multispace que ofereça exatamente o que cada um precisa, na hora em que precisa (temos ESSE POST que fala exatamente sobre escritórios multispace para você se inteirar).
5. Diversidade
Por último, mas não menos importante, a natureza sempre foi e sempre se mostrou absolutamente diversa. Muitas espécies convivendo em harmonia. No ecossistema de negócios, essa diversidade está não somente nas equipes, que precisam ser inclusivas, mas na compreensão de que uma companhia se faz com muito mais atividades do que apenas a sua atividade-fim. E o ambiente corporativo deve reconhecer esse aspecto para se moldar a ele. Vamos exemplificar? Imagine uma empresa de games, onde muitos dos trabalhadores são jovens, dinâmicos e estão focados em construir novos jogos e aplicativos para crianças e adolescentes. Essa empresa pode ter uma necessidade grande de ambientes abertos, que estimulem a criatividade e a inovação, com jogos e consoles espalhados pelo espaço. Porém, essa mesma empresa também tem departamentos como o financeiro e o de recursos humanos que, por vezes, podem exigir um local de trabalho mais formal e silencioso. Dentro de um mesmo escritório, é possível oferecer os dois ambientes.
Dessa forma, depois de compreender as características dos ecossistemas e o papel da arquitetura corporativa na construção desse ambiente interno, as empresas tornam-se capazes de reproduzir esses mesmos conceitos para o mercado, se alinhando às tendências globais e participando desse movimento de ecossistema de negócios que aparentemente vai apenas se fortalecer daqui para frente.