* Por Lisandra Mascotto
Estava ansiosa para retornar ao Brasil e contar, aqui no Espaço do Arquiteto, tudo o que aprendi nesta viagem à Alemanha. Ter a oportunidade de visitar a edição 2022 da Orgatec, maior feira de mobiliário corporativo do mundo, foi realmente um privilégio. Imagina estar diante das principais tendências para escritórios e ter a chance de conhecer produtos de mais de 600 empresas advindas de todas as partes do mundo? Foi, realmente, uma viagem motivadora, cinco dias de muita imersão, conhecimento e inspirações.
Vamos a um resumo das novidades e tecnologias que indicam os mais recentes conceitos de trabalho, aprendendo como os mobiliários, hoje, solucionam as principais questões da atualidade e melhoram a vida das pessoas. Uma coisa é fato: ambiente corporativo está em constante transformação.
Destaque para três temas principais desse evento grandioso: flexibilidade, privacidade e acústica. Interessante observar que essas três características, quando unidas em um projeto, conseguem despertar as melhores emoções, convertendo sentimentos em resultados e criando um ambiente saudável e motivador.
Bom, com a pandemia de covid-19, aprendemos a importância de sermos flexíveis e de termos ambientes que acompanhem essa flexibilidade. E isso significa construir um espaço que aceite muito bem as mudanças do nosso percurso. Quem imaginaria a chegada de um vírus que tiraria o convívio corporativo por um tempo, impactando na dinâmica de trabalho? Ninguém imaginou, mas agora temos esse aprendizado e podemos desenvolver espaços com mobilidade.
Para isso, nada como ambientes capazes de se transformar. Estações de trabalho desmontáveis (e remontáveis em novos layouts), além de mobiliário e painéis com rodízios para facilitar a movimentação são apenas algumas das ideias que já estão sendo postas em prática.
Essas soluções cabem perfeitamente nos escritórios open space, ou seja, abertos. Isso porque com esse tipo de mobiliário, você consegue incluir, mesmo em um grande espaço totalmente integrado, uma pequena área mais restrita. E aqui chega a hora de falarmos sobre privacidade!
Por mais que estejamos muito confortáveis com o coletivo e a oportunidade do trabalho colaborativo, a privacidade é muito necessária nesses espaços abertos. As empresas precisam investir em ambientes que mantenham as pessoas em uma condição privativa de conforto sem que elas precisem se desconectar totalmente do restante da equipe. Chega uma hora, que todo mundo precisa de um canto mais silencioso.
Por isso, voltamos a falar sobre as cabines acústicas, verdadeiras ilhas de concentração! Havia, na feira, muitos estandes trazendo diferentes modelos, desde os mais simples até os mais sofisticados em termos de tecnologia, envolvendo controle de qualidade do ar interno e até auto higienização após o uso. Além disso, também era possível encontrar muitos tamanhos diferentes: algumas individuais e outras para grupos, que chegam a cumprir o papel de salas de reunião.
Essas cabines são práticas de montar e desmontar, o que está dentro do conceito de flexibilidade, e ter um local privativo também está relacionado ao nosso terceiro tema: conforto acústico.
Se antes os projetos corporativos não davam tanta ênfase à acústica dos ambientes, a realidade hoje é outra! Os líderes perceberam que oferecer soluções de conforto sonoro cria espaços de produtividade. Portanto, planejar a acústica das empresas, utilizando soluções com uma estética extremamente agradável – a exemplo das placas com relevo, impressões coloridas que transformam a peça em um verdadeiro quadro, e mesmo mobiliários revestidos com material acústico – já está no DNA dos projetos modernos.
Por fim, gostaria de trazer mais uma observação relevante. Acabamos de acompanhar a COP 27, evento que reuniu lideranças globais para tratar da preservação ambiental. Nos ambientes corporativos, essa também é uma pauta constante. Durante a Orgatec, ficou muito clara a preocupação com a economia circular e a possibilidade de constante reaproveitamento. Vimos muitos produtos como cadeiras e mesas confeccionados com material reciclado e um grande empenho na reutilização de tecidos e plásticos. A responsabilidade produtiva, que alinha conceitos sustentáveis, agora integra a preocupação das companhias e dos arquitetos responsáveis pela construção de seus espaços.
Saímos da Orgatec com a convicção de que a capacidade de adaptação é um dos talentos do ser humano. Somos capazes de nos adaptar, tanto mentalmente, quanto fisicamente. Por isso conseguimos, agora, pensar em escritórios flexíveis, focados no movimento e preparados para facilitar qualquer necessidade de mudança.
Além disso, também estamos muito mais focados em construir ambientes que promovam o bem-estar. Estamos mais cansados, menos tolerantes. As demandas do dia a dia parecem nos consumir de forma ainda mais intensa. Então trabalhar, por exemplo, em um local barulhento, tornou-se impossível. Assim, espera-se, das empresas, a oferta de espaços de interatividade, mas também locais para atividades que exigem concentração e silêncio.
Tudo isso dentro de um contexto que respeita a natureza, os indivíduos, o coletivo e o propósito das companhias!
* Lisandra Mascotto, da RS Design, é especialista em mobiliário corporativo, tem mais de 25 anos de experiência no segmento e atua com conceitos que estimulam conexões entre as pessoas, por meio do mobiliário, colaborando em projetos corporativos humanizados e funcionais.