A sociedade norte-americana parece estar batalhando contra um contexto que se formou na era pós-moderna: o hiperindividualismo, ou seja, o individualismo ao extremo que deixa de ser saudável e chega a flertar com a falta de ética e o descaso com o bem comum. Esse cenário pode ter sido aprofundado pelo crescimento exponencial das redes sociais, mas reflete também naquilo que chamamos de “vida real”.
Uma matéria publicada pela National Review relata que esse hiperindividualismo está trazendo cada vez mais solidão ao povo dos Estados Unidos. O texto diz que a proporção de adultos americanos que se sentem solitários aumentou de 20% para 40% desde a década de 1980. Complementa sugerindo que cerca de 43 milhões de adultos com mais de 45 anos no país sofrem de solidão crônica.
Toda essa análise data de antes da pandemia de covid-19, o que nos levar a crer que o cenário, hoje, é ainda mais grave. Isso porque durante a crise do novo coronavírus, muitas empresas, com o intuito de proteger os colaboradores e reduzir o risco de disseminação da doença, adotaram o home office. A solução foi interessante naquela ocasião, pois permitiu que as atividades permanecessem sendo desenvolvidas, porém, com mais segurança. Já para a saúde mental, o impacto foi negativo. Pesquisas realizadas em diversas partes do mundo mostraram que a obrigatoriedade do home office levou as pessoas a se sentirem isoladas e dissociadas da empresa.
Paralelamente, precisamos entender como a arquitetura – em especial a arquitetura corporativa – pode impactar esse cenário negativa ou positivamente. Até pouco tempo atrás tínhamos uma arquitetura centrada no usuário que privilegiava determinadas classes e traçava uma linha vertical nos escritórios: enquanto os escalões mais altos tinham suas próprias salas confortáveis para trabalhar de forma silenciosa e isolada, os mais baixos se contentavam com seus cubículos instalados em um espaço amplo e barulhento. A separação por classe era notória, sem rodeios.
Mas o mundo muda, as pessoas evoluem e novas demandas surgem. Chega a hora, então, de trabalharmos uma nova arquitetura, muito mais centrada na comunidade do que no indivíduo, situação que ajuda a romper a barreira do hiperindividualismo que tem se mostrado tão maléfico para as pessoas. Com layouts que reacendem a proposta do coletivo, esses ambientes têm caráter transformador e revolucionário.
Para isso, os ambientes devem considerar algumas estratégias. Uma delas é investir em espaços compartilhados, onde as pessoas possam se encontrar e trabalhar em parceria, trocando ideias, conhecimento e tornando a atividade profissional menos individual e solitária. Chega de trabalhar sozinho. Conversar é bom, estimula a criatividade e torna a rotina menos pesada.
Pensando na construção (e manutenção) de relações sociais, refeitórios que estimulam as refeições em pares ou grupos, cantinhos do café espalhados pelos corredores, salas de descompressão para que as pessoas consigam tirar alguns momentos para descansar e relaxar com os colegas são apenas algumas estratégias válidas.
Porém, é sabido que nem toda tarefa pode ser realizada em conjunto. Nesses casos, espaços individuais continuam sendo bem-vindos, desde que rodeados de possibilidades de contato. Como exemplo, podemos citar as cabines individuais, excelente escolha para atividades privativas e focadas, e as cabines para duas, quatro ou mais pessoas, que se assemelham a verdadeiras salas, porém com o benefício amplificado do conforto acústico e da privacidade. Outro ponto positivo das cabines é que, tanto as individuais quanto as coletivas, separam o colaborador apenas durante a realização daquela atividade. Ou seja, no resto do tempo, ele permanece integrado ao ambiente de trabalho.
Por fim, mais uma vez podemos perceber como a arquitetura tem um papel fundamental na construção das sociedades e no molde de seus comportamentos. Com esse tipo de conhecimento em mente, torna-se muito mais fácil identificar os problemas dos ambientes de trabalho levando soluções e perspectivas de melhorias.