Profissionais da arquitetura e do design focados no mercado corporativo que trabalham com base em evidências, seguindo as descobertas da neuroarquitetura, têm uma preocupação em comum: como construir um ambiente de trabalho capaz de promover a saúde e o bem-estar? O texto de hoje vai abordar uma questão específica, mas que impacta um dos momentos mais prazerosos (e necessários) da nossa rotina, que é a hora de dormir.
O que vivemos durante o dia interfere totalmente no que viveremos ao fechar os olhos para dormir a noite. Essa é uma preocupação das empresas não somente pelo pensamento em prover qualidade de vida aos colaboradores, mas também porque noites mal dormidas atrapalham a concentração e prejudicam a produtividade.
Quais soluções a arquitetura corporativa pode aderir para melhorar a qualidade do sono dos trabalhadores? Vamos falar sobre a importância da exposição à luz natural.
Uma pesquisa científica norte-americana publicada em 2017 sugere que a redução da exposição à luz solar durante o dia e o aumento da permanência sob luzes artificiais à noite podem atrasar nosso ritmo circadiano, prejudicando o sono. Isso porque nosso relógio biológico está “programado” para vivenciar ciclos de 24 horas e com essa exposição desencontrada, a gente confunde essa “programação”.
Para chegar a esses resultados, os pesquisadores promoveram acampamentos com voluntários que permaneceram expostos apenas à iluminação natural. Não havia, no local, nenhuma fonte artificial de luz. Eles usaram relógios capazes de registrar os níveis de luminosidade e passaram por exames para detecção dos parâmetros de melatonina, conhecido hormônio do sono.
Comparando a experiência com os índices desses voluntários enquanto estavam vivendo suas rotinas em casa, a equipe de pesquisa concluiu que, no acampamento, os níveis de melatonina começavam a subir duas horas e meia mais cedo. Com isso, as pessoas iam dormir mais cedo, acordavam mais cedo e, como consequência, regulavam seus relógios biológicos.
Outro estudo, também norte-americano, relatou que aqueles que trabalhavam em escritórios com janelas, além de absorverem muito mais luz natural durante o dia, dormiam em média 46 minutos a mais por noite do que aqueles que atuavam em locais sem janelas. Um grande achado!
Portanto, a ciência prova que escritórios com mais entrada de luz solar são mais saudáveis e ajudam na qualidade do sono de seus ocupantes. Então, como aproveitar melhor a luz natural que entra no escritório? Algumas opções para anotar e usar nos projetos são:
- Dar preferência a paredes de cor clara, capazes de refletir a iluminação natural
- Escolher um layout onde as mesas e bancadas de trabalho estejam dispostas nos locais onde há mais incidência de luz solar
- Aproveitar todo e qualquer espaço ao ar livre – sejam quintais, terraços ou sacadas – para construir espaços de convivência que estimulem o uso
- Lembrar que locais com maior incidência de luz natural tendem a ser mais quentes, portanto, exigem mais investimento no conforto térmico
Sabemos que essa não é uma tarefa simples. Precisamos pensar nessa necessidade alinhada com a realidade dos escritórios modernos. No Brasil, por exemplo, principalmente nas metrópoles, muitas empresas ocupam andares em prédios comerciais instalados nos grandes centros, onde um gera sombra no outro. Algumas vezes, inclusive, esses escritórios não têm nem mesmo acesso às janelas, por ficarem concentrados no miolo dos edifícios. Outras tantas vezes, a camada que reveste a fachada já conta com um filme capaz de filtrar a entrada de luz solar e janelas bloqueadas, que não podem ser abertas.
Nesses casos, a indústria e a tecnologia trabalham para desenvolver soluções artificiais com capacidade de simular a iluminação natural. Há, até mesmo, um tipo de sistema de LED que muda de cor acompanhando as diferentes tonalidades de luz geradas ao longo do dia. Ou seja, o sistema trabalha com tons mais frios perto do meio-dia e tons mais quentes no final da tarde (aquela sonhada golden hour).
Não há, até o momento, comprovação científica de que esse tipo de sistema consegue, de fato, impactar positivamente nosso relógio biológico, mas é uma das opções mais modernas disponíveis na atualidade e, provavelmente, em breve, teremos pesquisas bem conduzidas sobre os resultados da implementação desse tipo de solução.
Assim, percebemos que prover iluminação natural para os trabalhadores é um bom desafio, mas cujos resultados são muito interessantes!
