Desde o lançamento do Chat GPT em 2022, ferramenta de chatbot embasada em inteligência artificial (IA) com capacidade para responder perguntas e simular conversas humanas, muitos setores da economia passaram a questionar como a inteligência artificial pode ser útil para a rotina dos profissionais. No ramo de arquitetura, por exemplo, muita gente começou a incorporar a tecnologia.
Pelo menos é o que indica relatório do Royal Institute of British Architects (RIBA). Documento divulgado recentemente afirma que 41% dos arquitetos do Reino Unido já utilizam IA em projetos ocasionais (somente 2% declararam usar em absolutamente todos os projetos) e, entre eles, 43% confirmam que a tecnologia trouxe eficiência a alguns processos.
O que a pesquisa sugere é que essa é de fato uma tendência, já que 54% dos respondentes acreditam que nos próximos dois anos a IA fará parte do dia a dia da arquitetura. Entre os temas sugeridos pelos entrevistados como focos dessa aplicação estão:
- Oportunidade de reunir novos conhecimentos – e compartilhá-los – de forma rápida;
- Contribuir com dados importantes para a tomada de decisão;
- Elevar o nível do design baseado em evidências;
- Revolucionar processos;
- Realizar análises de sustentabilidade ambiental;
- Aumentar a precisão de modelagens e especificações;
- Facilitar a compreensão do projeto por parte do cliente;
- Facilitar projetos paramétricos.
O risco de eliminação da profissão em decorrência do desenvolvimento da inteligência artificial não parece assustar a grande massa de profissionais britânicos. Cerca de 36% afirmaram encarar a tecnologia como uma ameaça. Para o presidente do RIBA, Muyiwa Oki, essa é uma ferramenta que merece atenção, mas sem grandes receios. “A inteligência artificial é a plataforma mais disruptiva do nosso tempo e não podemos exagerar o seu papel no futuro da arquitetura”, disse.
Em contrapartida, a maioria dos arquitetos (58%) teme que o uso da IA aumente o risco de plágios e cópias. O que eles questionam é que a profissão de arquitetura é criativa, mas se a inteligência artificial puder produzir (ou reproduzir) projetos de forma fácil e barata, podem começar a surgir layouts idênticos aos assinados pelos profissionais. Isso porque a inteligência artificial não aprende sozinha. Ela precisa “ser ensinada” com base em exemplos.
Alguns programas já podem ser utilizados a partir do comando de textos, os chamados “prompts de comando” para a criação de imagens. Basta descrever detalhadamente o que você gostaria de ver em uma imagem e o programa criará com tecnologia IA.
“A grande questão é que esses programas precisam ser alimentados com informações e até que ponto essas imagens serão totalmente únicas e inovadoras? Talvez sejam boas fontes de inspiração como pontos de partida de um projeto, mas não como uma execução em si”, comenta Lisandra Mascotto, da RS Design, enfatizando que esse é apenas um entre tanto outros pontos que envolvem a IA para serem amadurecidos e discutidos.
Na arquitetura corporativa, vemos que a inteligência artificial pode contribuir em alguns pontos importantes:
1 – Com a reunião de dados que servirão de base para a elaboração de projetos que consigam atender ao maior número de demandas dos diferentes perfis profissionais. É possível, por exemplo, criar uma solução de inteligência artificial capaz de monitorar a ocupação dos espaços. Sabendo, hipoteticamente, que as cabines acústicas estão sempre ocupadas enquanto as bancadas colaborativas permanecem livres, o arquiteto pode propor mudanças de layout reconhecendo que aquele time prefere trabalhar de forma mais silenciosa e isolada.
2 – Contribuir com a definição de padrões que se repetem em empresas do mesmo setor, facilitando a compreensão do arquiteto para que ele possa se dedicar a entender e desenhar apenas para as necessidades individuais das companhias. Dessa forma, um arquiteto especializado em escritórios de advocacia, por exemplo, pode reunir, com ajuda da inteligência artificial, todos os detalhes de seu portfólio entendendo qual é o comportamento padrão desses times. Porém, reconhecendo, sempre, que cada empresa é uma empresa e que deve ser encarada como um organismo vivo e em contínua transformação.
Por fim, o importante é saber que por mais que a inteligência artificial tenha um potencial altíssimo de processar um elevado número de dados, ela ainda não consegue criar como cria o ser humano, tampouco tomar decisões baseadas em emoções, o que é fundamental para a construção de um ambiente de trabalho saudável, agradável e focado em bem-estar.