“O futuro pertencerá à natureza inteligente, ou seja, aos indivíduos, famílias, empresas e líderes políticos que desenvolvem uma compreensão mais profunda do poder transformador do mundo natural equilibrando o virtual com o real. Quanto mais alta tecnologia adquirimos, de mais natureza precisamos”, é o que diz Richard Louv, autor do livro A Última Criança na Natureza e cunhador do termo “distúrbio do déficit de natureza”, também conhecido como “transtorno do déficit de natureza”.
Mas o que seria esse distúrbio? A que tipo de sensações o escritor norte-americano se refere?
Embora não seja uma condição reconhecida pela medicina, os reflexos de uma vida a cada dia mais imersa em ambientes construídos e longe de outros seres vivos são bastante debatidos, principalmente dentro da neuroarquitetura, ciência que mescla estudos da neurociência com a arquitetura para construir ambientes que impactam pessoas positivamente (clique AQUI se quiser entender mais sobre o conceito).
O especialista, que menciona estudos feitos nos últimos dez anos que comprovam que a falta de contato das crianças com a natureza acarreta em questões físicas como, por exemplo, a obesidade, e psicológicas como depressão e hiperatividade, concedeu uma entrevista à BBC quando esteve no Brasil em meados de 2016 na qual afirma que o contato com a natureza, mesmo que pequeno e por pouco tempo, pode reduzir sintomas desses distúrbios. “Uma pesquisa de um grupo na Universidade de Chicago que estuda distúrbios de atenção entre crianças comprovou que meninos e meninas de cinco anos tiveram uma melhora significativa com caminhadas curtas em parques”, diz na entrevista (confira AQUI na íntegra).
Muitas das abordagens de Louv fazem referência à infância, mas os adultos também estão sendo impactados pela ausência de natureza. E a neuroarquitetura tem buscado incentivar os ambientes construídos a abrir espaço para a entrada de itens naturais, inclusive nos ambientes de trabalho, a fim de recuperarmos o tempo.
Tempo esse que para o escritor nunca é, de fato, perdido. Ainda na entrevista à BBC, ele afirma que “nosso cérebro tem o que se chama plasticidade e, graças a ela, abrem-se janelas para mudarmos os caminhos neurológicos que usamos para aprender ou perceber coisas novas em qualquer idade”.
O tema, que ganhou ainda mais relevância depois de ter sido citado durante a temporada 2019 do programa O Aprendiz, da rede Bandeirantes de Televisão, aposta em uma mudança do atual modelo de urbanismo das cidades para incorporação da natureza capaz de compensar os efeitos mentais e físicos da imersão tecnológica a qual estamos expostos na última década.
No ambiente de trabalho, onde o estresse muitas vezes ganha ainda mais força devido à pressão e à intensa rotina de atividades, a natureza tem ainda um papel mais acolhedor, contribuindo com a diminuição do estresse e amentando a motivação e, consequentemente, a produtividade dos times. Biofilia é outro termo que vem de encontro à teoria do distúrbio do déficit de atenção. E o Espaço do Arquiteto tem um post específico sobre biofilia que você pode conferir AQUI.
São inúmeras as possibilidades de inserção da natureza no ambiente corporativo construído. Algumas mais viáveis, como a aposta em plantas naturais na decoração do espaço e permissão para maior entrada da luz solar; outras mais difíceis de serem atingidas – como a opção por uma vista mais natural pela janela, que é difícil em grandes metrópoles, mas que podem ser imitadas por meio de painéis fotográficos e até mesmo com a adoção de odores naturais espalhados pelo escritório.
O importante é que a arquitetura e os profissionais dedicados à projetos corporativos já estão trabalhando para movimentar o mercado introduzindo a cada dia mais itens naturais nas áreas corporativas a fim de prover um ambiente mais saudável para todos os ocupantes.