*por Lisandra Mascotto
Quando eu voltei da viagem de Milão, que aconteceu entre os dias 16 e 21 de abril de 2024, muitas pessoas me perguntaram: qual é a maior tendência do momento? E provavelmente essas pessoas estavam esperando uma resposta sobre cores, formas, etc., mas na verdade minha resposta é um pouco diferente. É claro que existem algumas referências de cores, tipos de mobiliário e formas. Porém, eu acredito que a grande tendência seja fazer as pessoas SENTIREM os produtos e os ambientes. Isso mesmo, a proposta é proporcionar experiências.
Antigamente, quando eu visitava a Feira ficava mais evidente, por exemplo, “a paleta de cores do momento”. E isso era replicado como modernidade para quem queria estar atualizado. Mas agora, percebo que mais do que colocar uma determinada cor em um espaço, questiona-se o porquê daquela cor, se ela trará o estímulo necessário às pessoas que irão morar, trabalhar ou até se cuidar naquele local. É algo mais profundo e personalizado.
As grandes marcas estão direcionando seus esforços para fornecer experiências de bem-estar, tanto no aspecto físico quanto mental, para os consumidores. Isso porque estamos numa era em que as pessoas vivem com extrema ansiedade, devido ao excesso de informações em um mundo cada vez mais diverso.
Estamos numa era de fragilidade emocional e mental com grandes desafios pela frente, diante da ansiedade para entender as novas tecnologias, como a inteligência artificial, que está sendo comparada com a nova eletricidade. Cuja previsão é para estar totalmente integrada em nossas vidas em três anos.
Outro grande desafio da humanidade é conter o avanço do aquecimento global, que já demonstra evidentes sinais que demandam tomadas de decisões em curto prazo.
Numa era cada vez mais tecnológica e com receios perante o futuro, o grande desafio será fazer as pessoas realizarem uma pausa para buscar a essência humana, para respirar mesmo.
Mas o que tudo isso tem a ver com o design? Com produtos? Com a Feira de Milão?
Eu digo que tudo.
As empresas que lançam produtos ou fazem ativações em Milão estão à frente em estudos de pessoas e de mercado e já apostam em produtos para resgatarem SENSAÇÕES e SENTIMENTOS nas pessoas.
Está sendo muito mencionado o marketing organoléptico, que nada mais é do que a potencialização máxima dos sentidos. Ou seja, a experiência do cliente, em todos os pontos de contato com a marca e o produto, tem que ser ativada por sentidos como olfato, paladar, audição, tato e muito além do visual.
O Google, marca altamente ligada à tecnologia, com a instalação “Making Sense of Color” levou os visitantes a um passeio sensorial através de um labirinto de telas semitransparentes, projetadas para simular a experiência de ter sinestesia, ou seja, a fusão entre os sentidos humanos. Com alternância das cores e das ondas sonoras permitiu que os visitantes experimentassem as cores através de dois sentidos diferentes simultaneamente, um fenômeno perceptivo que fazia com que as pessoas “ouvissem as cores”.
As pessoas também tinham experiências táteis em diversas texturas e temperaturas de pedras que estavam relacionadas, por meio de estudos, a algumas cores. Novamente ativando dois sentidos ao mesmo tempo. Tudo isso para parar e SENTIR de forma plena e no momento presente.
Aqui no Brasil, alguns tecidos, por exemplo, já são criados de forma tecnológica para trazer bem-estar as pessoas. Existe um modelo de sofá e poltrona que possui uma membrana abaixo do couro com partículas de minerais emissoras de infravermelho, que em contato com o calor humano entra em ativação, aumentando o fluxo sanguíneo e o bem-estar. Trata-se de um produto que praticamente “recarrega a bateria” da pessoa ao sentar.
Nas ativações em Milão, e quando falo de ativações entenda-se mais de 1.500 apresentações do que chamamos Fuorisalone, que são eventos que acontecem fora do pavilhão de exposições, nos quais os expositores fazem questão de explicar as origens dos materiais dos produtos. Mostrando o círculo sustentável, o material reciclado ou reciclável ou ainda o material de reuso. São pontos altamente enfatizados, pois estamos na “era dos resíduos”, o que gera um desafio e uma oportunidade para o design. Desafio porque toda a cadeia produtiva precisa ser circular para evitar que o material seja jogado na natureza. E oportunidade para que novos produtos e técnicas produtivas surjam.
Outro ponto que percebi uma valorização foi com relação ao produto artesanal com conceito de arte. Produtos manuais com aceitação de diferenciação da padronagem. A beleza na imperfeição em prol de peças únicas.
Vejo esses conceitos de busca pela essência, de fazer as pessoas sentirem, provocar experiências, buscar a exclusividade do artesanal e da arte, como contrapontos para neutralizar o excesso de tecnologia ou complementos para com o seu uso.
A tecnologia é fundamental para nossas inovações e deve ser utilizada a nosso favor. A inteligência artificial pode ser uma grande aliada, sendo utilizada como outro cérebro para nos ajudar a ser mais produtivos. Mas acredito que é nossa capacidade de nos conectar com a nossa essência, uns com os outros, de olhar nos olhos, de parar para sentir e vivenciar o agora, que realmente nos impulsiona para vivermos bem e felizes.
E penso que os estudos dessas grandes marcas descobriram isso.
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* Lisandra Mascotto, da RS Design, é especialista em mobiliário corporativo, tem mais de 30 anos de experiência no segmento e atua com conceitos que estimulam conexões entre as pessoas, por meio do mobiliário, colaborando em projetos corporativos humanizados e funcionais.