Recentemente, em uma palestra realizada no show room da RS Design para apresentar um pouco do que observou durante a edição 2024 do Salone del Mobile de Milão, a designer de interiores Paula Leme abordou um tema bastante interessante e que vale ser debatido entre os profissionais do setor, inclusive entre aqueles que atuam com projetos corporativos. Qual a diferença entre modismo, tendência e conceito? E o que cada um pode agregar para a construção de um projeto atrativo, eficiente e moderno?
“Tenho essas diferenças como uma base do trabalho que nos faz compreender Milão e nos permite criar uma identidade nossa em cada projeto. Nenhum é melhor do que o outro. Todos têm seu nível de importância“, declarou na ocasião.
Modismo, na visão da especialista, remete a algo que segue uma direção de futuro, é consistente, significativo e traz oportunidades em diversas áreas do mercado. É, inclusive, responsável por gerar impactos na economia de produtos e por promover beleza e status, porém, passa mais rápido.
Se formos pensar em um modismo dentro da arquitetura corporativa, podemos citar os escritórios instagramáveis. Temos, inclusive, um post sobre isso aqui no Espaço do Arquiteto (confira AQUI). Mas por que atrelamos esses espaços pensados para “brilhar” nas redes sociais como um modismo? Pois a Internet é um ambiente bastante volátil. Hoje, o Instagram faz muito sucesso, principalmente entre as pessoas que estão na faixa etária ativa profissionalmente. Mas não temos como afirmar que esse cenário perdurará por anos e anos. Ou mesmo que as diretrizes da plataforma não mudarão de repente, fazendo com que essa moda desapareça.
Pensar em um espaço instagramável é uma possibilidade válida, afinal, explorar o modismo é estratégico. Talvez o mais interessante seja avaliar justamente se aquele padrão é um modismo para definir o quanto ele dominará o projeto e até mesmo demandará do orçamento.
Na sequência, precisamos compreender o que são as tendências. No dicionário, tendência é uma disposição natural que leva alguém a agir de determinada maneira ou a seguir certo caminho. Uma orientação comum em determinada categoria ou grupo de pessoas, um movimento que vai se consolidando. Para Paula, a tendência dura muito mais e, além de impactar o setor sócio-econômico, envolve tecnologia.
Nos ambientes corporativos temos diversas tendências muito claras hoje em dia que podem servir de exemplo. Mas vamos utilizar a flexibilização dos espaços para explicar como tudo isso funciona. Antigamente, os espaços corporativos eram muito mais rígidos, sem possibilidade de alteração para atender demandas específicas. A tendência de décadas passadas era justamente construir um escritório onde cada um tinha a sua mesa própria – todas exatamente iguais -, os horários eram os mesmos para todos que chegavam, sentavam, trabalhavam, e iam para suas casas.
Essa tendência permaneceu por bastante tempo, até que as situações foram mudando e surgiram outras visões e perspectivas. Hoje, temos os escritórios flexíveis, ditando uma das principais tendências da arquitetura corporativa para que seja possível tornar o espaço de trabalho muito mais dinâmico, acolhedor, diverso e agradável para qualquer perfil profissional que vá atuar por lá.
Por fim, precisamos falar sobre o conceito! E Paula o define muito bem: “conceito pode não agradar e até mesmo não ser compreendido. E aí está a grande fórmula“, diz. Quando pensamos em arquitetura, conceito é o que norteia a concepção de um projeto. É a base que influencia as decisões e definições. É o que dita a narrativa que transformará o sonho do cliente em realidade. É o que ajuda a definir como as necessidades dos ocupantes daquele espaço serão atendidas.
Há arquitetos renomados mundo afora que, para construir o conceito de um projeto, optam por vivenciar por dias e até por semanas o ambiente a fim de entender em detalhes a dinâmica do local, como as pessoas ali se movimentam, sobre o que conversam, quais áreas mais utilizam e etc.
A arquitetura corporativa pode ter layouts baseados em inúmeros conceitos distintos. Um projeto humanizado, por exemplo, é aquele em que todo e qualquer espaço será pensado para a ocupação e necessidades humanas. Trará ambientes onde a interação é o foco, onde a construção de relações interpessoais ganha ainda mais importância. Focará na saúde, em promover a qualidade de vida, em garantir que os colaboradores tenham suas necessidades básicas sempre atendidas. Para isso, investirá em conforto acústico, entenderá que são necessários espaços colaborativos, mas também espaços de silêncio e ampla privacidade. Oferecerá um refeitório amplo, agradável, onde as refeições possam ser realizadas de forma harmoniosa e com qualidade.
Por fim, após entender exatamente o que é cada uma dessas palavras, fica mais fácil entender que elas não competem entre si quanto o assunto é arquitetura. Assim como disse Paula, não há uma mais importante do que a outra. Elas se complementam. Uma tendência pode se adequar perfeitamente a um conceito que também consegue acolher um modismo atrativo para aquela ocasião. E, assim, se constrói um projeto eficaz.
