Sabemos que o ambiente construído tem grande impacto no bem-estar das pessoas. Inclusive, a neuroarquitetura vem dedicando tempo e esforços para entender, com base em evidências científicas, quais são esses impactos. Há, disponível na Internet, um artigo conduzido em uma parceria entre o Brasil e a República Tcheca, que busca entender os efeitos de curto e longo prazo da arquitetura no nosso cérebro.
O que esse documento revela é que estamos em constante interação com os espaços que ocupamos e, assim, tanto nosso cérebro quanto nosso corpo vão se adaptando aos estímulos ali recebidos. Fazemos isso basicamente pelo nosso instinto de sobrevivência.
Essas adaptações geram efeitos de curto e de longo prazo. E esses efeitos dependem, claro, da estrutura montada no ambiente construído, mas também dependem de fatores como o tempo e a frequência que a pessoa permanece ali; as atividades que são feitas em cada espaço; a cultura e a experiência pessoal de cada um; e o ambiente social.
Para decifrar, de forma mais aprofundada, quais são os efeitos, o estudo fez observações em três formatos diferentes:
- Exposição de curto prazo e efeito de curto prazo
- Exposição de longo prazo e efeito de longo prazo
- Exposição de curto prazo e efeito de longo prazo
Considerando que uma ocupação de curto prazo foge da realidade do ambiente corporativo – já que vamos avaliar pelo padrão de permanência de oito horas diárias, por anos a fio – vamos nos focar no item número 2 para fazer nossos comentários. Até porque o próprio estudo reforça que permanecer muito tempo em um mesmo local gera alterações mais complexas e duradouras.
O estudo observou o comportamento de ratos mantidos em dois ambientes distintos. Em ambientes repletos de estímulos físicos e sociais, os animais apresentaram alterações de peso, tamanho e espessura do cérebro, levando a melhores resultados no aprendizado. Além disso, alguns chegaram a apresentar melhoria em deficiências atreladas ao desenvolvimento cerebral.
Já em ambientes empobrecidos, com pouquíssimos estímulos, os ratos observados tiveram redução do peso de seus cérebros, o que mostra de forma clara a importância do espaço construído no desempenho e que a neuroplasticidade está diretamente relacionada a características espaciais.
Há dois detalhes na publicação que fazem todo o sentido quando o assunto é o ambiente de trabalho:
– As empresas não devem fazer com que todos os seus espaços sejam repletos de estímulos. É preciso ponderar, mantendo, também, à disposição dos ocupantes, lugares mais calmos para o descanso.
– É preciso entender a diferença entre estímulo e caos. Na natureza, por exemplo, temos muitos estímulos diferentes como sons, ruídos e cheiros. Mas existe um padrão. Não nos sentimos exaustos quando permanecemos horas em um campo. Em megalópoles como Nova Iorque, temos um caos. Buzinas, barulho de motor, outdoor, cheiros desagradáveis diversos, obras, etc. O cérebro se cansa. Se o ambiente for caótico teremos mudanças negativas na saúde mental e física dos indivíduos. Um exemplo está no fato que pessoas que vivem em cidades geralmente têm mais problemas psicológicos do que as que vivem em áreas rurais. É, também, cientificamente comprovado, que pessoas expostas ao ambiente urbano têm maior risco de desenvolver transtornos psicóticos.
Como, então, construir um ambiente de trabalho que tenha estímulos positivos e seja capaz de fazer alterações proveitosas no nosso cérebro? O estudo traz algumas sugestões:
- Incentivar a prática de atividades físicas – O exercício ajuda a manter o corpo forte e saudável e estimula a produção de substâncias químicas que ajudam no crescimento dos neurônios.
- Promover a interação social – Ambientes que estimulam o contato entre os seus ocupantes podem ajudar a evitar problemas de saúde diversos que vão desde depressão até mesmo derrames e câncer.
- Evitar situações de estresse desencadeadas pelo ambiente – Escritórios onde há uma disputa enorme pelas salas de reunião, onde os banheiros estão sempre ocupados por serem poucos, onde as pessoas têm dificuldade para ligar ou desligar os equipamentos, onde há baixa luminosidade, mobiliário quebrado ou desgastado demais são exemplos de geração de estresse.
Podemos citar também a importância de reservar áreas no escritório às atividades que demandam concentração. Sabemos que tentar se concentrar em uma tarefa enquanto há ruído ao redor pode ser extremamente estressante. No entanto, se houver um espaço apropriado, como uma cabine acústica, por exemplo, os profissionais poderão se beneficiar de um ambiente acusticamente confortável e se concentrar com tranquilidade em suas tarefas.
Como conclusão, o estudo reforça que o nosso cérebro sempre se adapta ao ambiente, porém, nem sempre essa adaptação é positiva. Por esse motivo, é muito importante que os arquitetos e designers que atuam no cenário corporativo se unam com pesquisadores e cientistas para garantir ambientes saudáveis e que melhorem a vida dos ocupantes.