No dia 5 de março o arquiteto Arata Isozaki, de 87 anos de idade, foi homenageado com o Prêmio Pritzker, o Nobel da Arquitetura. Oitavo japonês a receber a premiação, Isozaki também é reconhecido pela sua ligação com o “Ma”, conceito oriental que define “o espaço entre duas partes”. Mas como esse tradicional conceito japonês pode impactar a arquitetura corporativa moderna?
O “Ma” não se refere apenas à espaços estruturais. Representa, de uma forma ampla unicamente identificável na cultura oriental, um conceito entre espaço e tempo que pode ser notado entre os trechos de um poema, entre as rimas de uma música ou mesmo entre os pilares de um projeto arquitetônico.
Mas diferentemente do que possa parecer – ou do que possa soar em nossa cultura ocidental – o vazio por sua vez não carrega um peso negativo. Principalmente quando falamos em arquitetura, o vazio não é ruim, mas sim interessante. Como mencionado por Walkyria Tsutsumi Ferreira Coutinho em seu projeto de mestrado sobre o conceito “Ma” na Universidade Federal de Pernambuco, o “Ma” é um lugar onde a vida é de fato vivida.
Para o vencedor do Prêmio Pritzker de 2019, o “Ma” é um espaço que só começa a ter sentido quando há indicações de vida humana. E essa definição dita e reforçada pelo arquiteto ao longo de suas mais de cinco décadas de carreira encaixa-se perfeitamente no conceito de arquitetura corporativa humanizada que estamos enfatizando nos últimos anos por meio da neuroarquitetura (entenda o que é a neuroarquitetura clicando AQUI).
Se “Ma” é um espaço que só começa a ter sentido quando há vida humana, é disso que os ambientes corporativos precisam em seus projetos arquitetônicos. Hoje, as empresas estão
muito mais propensas a desenhar seus ambientes de trabalho para garantir que os profissionais que ali permanecerão por 1/3 de seus dias vivam, desempenhem suas atividades, sejam produtivos e, acima de tudo, sejam saudáveis e convivam em harmonia.
Os espaços corporativos, quando projetados, necessitam da aplicação do conceito “Ma” para que sejam humanizados e priorizem a vivência de seus ocupantes. Publicado por Simone Loures Gonçalves Neiva e Roberto Righi, o texto “A cultura e o espaço urbano no Japão” traz uma boa definição desse conceito tão subjetivo: “o ‘Ma’ não se resume apenas aos elementos
estruturais do espaço, mas também está presente no arranjo para os usos temporários, característicos da cultura japonesa. O ‘Ma’ é criado pela adição e remoção de portas de correr, janelas portáteis e utensílios que proporcionam a adaptação da casa às mudanças de estação, usos e necessidades sociais”.
Essa adaptação citada por Simone e Roberto é justamente o que os arquitetos corporativos vêm perseguindo em seus projetos de escritórios: um ambiente adaptado aos usuários, que
promova uma sensação rica de bem-estar e garanta a produtividade e a motivação para que o fluxo de trabalho seja intenso, porém não exaustivo.
Para saber mais sobre todos esses aspectos da arquitetura corporativa moderna, clique AQUI e confira muitos posts que já publicados sobre essa temática.
Sobre Arata Isozaki – Com mais de 100 obras realizadas em todas as partes do mundo, o arquiteto japonês Arata Isozaki vem contribuindo de forma grandiosa com as teorias da
arquitetura e urbanismo. Aos 12 anos de idade viu as cidades de Hiroshima e Nagazaki serem bombardeadas durante a Segunda Guerra Mundial e sua cidade natal, Oita, ser incendiada. E foi então que ele começou a ter um olhar voltado à arquitetura.
“Quando eu tinha idade suficiente para começar a entender o mundo, minha cidade foi incendiada. Do outro lado da costa, a bomba atômica foi lançada em Hiroshima, então eu cresci no marco zero. Tudo estava em ruínas, e não havia arquitetura, nem edifícios e nem mesmo uma cidade. Então minha primeira experiência em arquitetura foi o vazio da arquitetura, e comecei a considerar como as pessoas poderiam reconstruir suas casas e cidades”, disse certa vez em entrevista reproduzida pelo Arch Daily.
Oitavo arquiteto japonês a vencer o Prêmio Pritzker, Isozaki é o responsável por empreendimentos reconhecidos mundialmente como, por exemplo, o Museu de Arte Contemporânea de Los Angeles; o edifício Team Disney, na Flórida; e o Estádio Sant Jordi, feito para as Olimpíadas de 1992 em Barcelona, na Espanha. Na China também assina projetos como o Museu de Arte CAFA, em Pequim; e o Centro Cultural de Shenzhen, em Guangdong.
Ao nomear o vencedor, o júri da premiação afirmou que “em sua busca por uma arquitetura significativa, Isozaki criou edifícios de grande qualidade que até hoje desafiam categorizações, refletem sua constante evolução e estão sempre atualizados em sua abordagem”.
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