A busca por inspirações e pela ampliação da capacidade criativa têm sido alguns dos objetivos dos arquitetos que acreditam que é preciso inovar sempre. Hoje o óbvio parece ser acessar redes sociais como Pinterest e Instagram observando e curtindo projetos e estudos de parceiros de profissão. Mas é indispensável não se limitar à Internet para encontrar boas fontes de estudo e de inspiração.
É o que acredita Robson Gonzales, arquiteto e urbanista pós-graduado em acessibilidade. Para ele, é preciso abrir os olhos para o mundo. “Ler, observar, planejar, discutir e viajar são exercícios imprescindíveis à boa arquitetura. Imagens de sites são boas, mas são inertes. Arquitetura precisa de movimento, de sentido e direção. Nem sempre boas fotos refletem boa arquitetura”, menciona.
Mas quais os melhores caminhos para quem busca se motivar e expandir seus horizontes? São diversas as possibilidades e, como declara Lisandra Mascotto, da RS Design, “o importante é manter a mente aberta e encontrar inspiração até mesmo ao ver uma barraca de frutas, afinal, tudo dependerá do direcionamento do próprio olhar”.
Para Arthur Parolin, estudante de arquitetura do interior de São Paulo, viajar promove uma troca de ideias e de culturas incrível. “A arquitetura está em tudo. Podemos visitar locais a lazer ou a trabalho e, durante o passeio, encontrar um espaço interessante ou mesmo uma pessoa que nos conte algo que nos desperta o desejo de projetar”, relata.
E se a arquitetura está em tudo, como comenta Parolin, o dia a dia também pode reservar excelentes fontes de inspiração. É o que afirma o também estudante Márcio D’campos: “é ótimo andar pelas ruas com o simples propósito de observar, sem pressa e compromissos. Com a correria que vivemos hoje em dia, deixamos de perceber pequenas coisas inspiradoras que estão à nossa volta”.
Pensando em leituras que inspiram, antes do advento da Internet, as bibliotecas ficavam sempre cheias de pessoas em busca de conteúdo. E é nos livros e nos estudos acadêmicos que o universitário de Minas Gerais, Bruno Fabiano, apoia muitas de suas fontes inspiradoras. Dentre os diversos títulos e monografias que ele indica para quem está na área, destaque para o “Estudo das Relações entre a Arquitetura e a Música”, escrito por Agnes Costa Del Comune na conclusão do curso de arquitetura e urbanismo em 2010.
O texto mostra que as relações entre arquitetura e música existem desde a antiguidade e promete despertar a criatividade de quem acredita que qualquer tipo de arte pode ser uma excelente referência para a criação arquitetônica. “Há, inclusive, uma edificação na qual o arquiteto utilizou da sobreposição de uma partitura no terreno para então posicionar os elementos do projeto. Além disso, utilizou questões musicais como melodia, harmonia e ritmo em toda a construção”, detalhou sobre um projeto para uma escola técnica de música relatado na monografia mencionada acima.
Um outro bom exemplo desta mescla é o projeto do escritório israelense Neuman Hayner Architects que, em parceria com o arquiteto Gal Karni, estudou a construção de um conservatório totalmente inspirado nas cinco linhas horizontais das partituras, um projeto que integra espaços públicos e privados e ainda considera demandas acústicas e de eficiência energética.
Simplificação na Internet – Paulo Capel, arquiteto, sugere uma preocupação com a simplificação dos projetos apresentados na Internet. Segundo ele é preciso tomar certo cuidado para que não limitemos a arquitetura à fotografia da obra concluída, pois o estudo precisa ser reconhecido pelo todo e não apenas pelo seu resultado final. “A Internet é maravilhosa! Quando eu teria oportunidade de ver tantos trabalhos legais de profissionais que não são tão famosos por aí? Só na Internet mesmo! Mas o que acontece é que nossa profissão sempre foi vista como supérflua e, com a chegada das redes sociais, todo o desenvolvimento do projeto, o programa de necessidades, usos, dimensões, ergonomia e vários outros estudos que utilizamos na arquitetura não aparecem para as pessoas. E, por isso, hoje a arquitetura acaba sendo, muitas vezes,subestimada”, desabafa.
Desligando para inspirar – Estamos cercados o tempo inteiro por informações. Muitas vezes, para chegar a uma inspiração, é interessante se desligar um pouco do mundo. Cerrar as referências e permitir que as ideias se concretizem de forma mais instintiva pode ser um bom caminho. “Ter um tempo sem interferências como celular, televisão, internet e barulhos, faz a mente fluir. É como orar ou meditar. Ter um tempo para a mente se organizar faz enxergar as coisas sob um novo olhar. O fundamental é captar a informação, mas dar tempo para que ela seja processada”, comenta Roger Mafra, que atua com design industrial e acredita que todos que trabalham com projetos precisam deste tipo de artifício para seguir com suas rotinas de criação.
Chegamos, então, à conclusão de que fontes de inspiração não faltam desde que a pessoa esteja com a mente aberta e o olhar treinado para absorver tudo o que está à sua volta.
Boas inspirações para você!