O brasileiro é um povo muito sociável. Não tem jeito. A volta do carnaval – depois da pandemia de covid-19 – confirmou o desejo que a população tinha em estar junta de novo para confraternizar neste que é um dos eventos anuais mais aguardados. E no ambiente de trabalho? Quão importante é a construção de laços afetivos e como a arquitetura local pode contribuir (ou atrapalhar) essas relações?
Um estudo publicado em 2022 e intitulado “Workplace Loneliness: The Benefits and Detriments of Working From Home” sugere que a solidão no local de trabalho está mais voltada à qualidade dos relacionamentos do que à quantidade de relações interpessoais. Ou seja, às vezes a pessoa trabalha em uma empresa com centenas de funcionários e, mesmo assim, se sente só.
Antes de mais nada, é importante explicar alguns pontos. O primeiro deles é que a definição de solidão é um “déficit percebido nas relações sociais desejadas”. O segundo é que, no trabalho, de acordo com o estudo, a solidão pode ter duas faces distintas: privação emocional (falha na conexão emocional ou dificuldade em se apegar às outras pessoas) e companheirismo social (conexão e envolvimento com uma rede de pessoas). Em qual dessas vertentes a arquitetura pode auxiliar?
Acreditamos que com um projeto adequado, ajuda em ambas, já que o ambiente molda o comportamento das pessoas e pode fazer com que elas se afastem ou se aproximem. Por isso, listamos três ideias arquitetônicas que podem ser úteis nesse sentido:
1. Espaços coletivos de trabalho
Locais de trabalho onde todas as posições são individuais, seguindo aquele padrão de manter um certo distanciamento entre os colaboradores, não agrega na construção de relações interpessoais. Principalmente se o espaço não tiver outro local mais dedicado à socialização.
Isso pode acontecer principalmente em empresas menores, onde a metragem é limitada. Mas, mesmo neste cenário, é possível construir ambientes propícios à interação. Se o local for pequeno, o arquiteto pode pensar em priorizar a área de trabalho, claro. Mas dentro dessa área de trabalho – caso a atividade em questão permita – pode enfatizar bancadas coletivas em vez de estações individuais. Para o trabalho focado, quando necessário, pode ofertar as tão desejadas cabines acústicas.
2. Copa mais acolhedora
A grande maioria das empresas tem uma copa, mesmo que seja pequenininha, apenas para as pessoas poderem tomar um café e esquentar suas refeições. Esse espaço pode ser melhor aproveitado com foco na interação. Pode virar, inclusive, um ponto de encontro.
Para isso, a colocação de bistrôs ou mesinhas de apoio ajuda. A ideia é fazer com que a pessoa não siga até a copa, pegue seu café, e volte para a mesa. Mas que aproveite para tomar o café enquanto conversa com seu colega (por isso ter um apoio é importante).
3. Pequenas salas de reunião
No início do texto, falamos sobre ser mais importante ter poucas relações, mas de qualidade, do que muitas relações superficiais. Para isso, ofertar saletas pequenas de reuniões é uma excelente estratégia. Colocar grupos de duas ou três pessoas trabalhando em conjunto é motivador. Isso porque, quando há muita gente em um mesmo espaço, as conversas tendem a ser mais rasas. Já quando se possibilita a aproximação de grupos menores, os assuntos se aprofundam e esse é um ótimo caminho para a construção de vínculos afetivos de qualidade.
Por fim, podemos dizer que o ambiente de trabalho, hoje em dia, não será promissor se questões como entrega de tarefas e conquista de resultados forem os únicos requisitos primordiais para a elaboração do projeto. É valioso criar espaços feitos de pessoas para pessoas, atendendo às necessidades de trabalho e às fisiológicas, mas também focando no lado emocional dos indivíduos. Tudo isso pois criar vínculos afetivos já pode ser apontado como uma das necessidades básicas do ser humano.