A relação entre neurociência e arquitetura vai mais longe do que imaginávamos. A cada nova descoberta, mais indícios de que existem conexões muito fortes entre estes dois campos. Isso significa que o ambiente, que é trabalhado e desenhado pelo homem, tem um poder bastante relevante nas relações humanas (como já falamos AQUI em um dos nossos posts) e na forma como encaramos nossas rotinas.
Criada justamente para debater esse conceito e promover a troca de conhecimentos que relacionem pesquisas da neurociência à compreensão das respostas humanas ao ambiente construído, a ANFA (Academia de Neurociência para Arquitetura) vem realizando conferências bianuais para reunir profissionais multissetoriais e levar este debate a novos patamares.
Como nossos cérebros trabalham na hora de projetar os edifícios que frequentaremos e dentro dos quais passaremos três quartos das nossas vidas? E como esse ambiente, depois de pronto, afeta a nossa existência? A próxima edição da conferência, que será realizada em setembro de 2018, trará assuntos como emoção, empatia e neuroestética no ambiente construído; relação entre espaços e memória; e o papel da ação e da interação em edifícios na experiência do usuário.
No Brasil, a arquiteta Priscilla Bencke, da Qualidade Corporativa / Bencke Arquitetura é uma das profissionais do país que vem aplicando o conceito da neuroarquitetura em seus projetos e desafios. Dedicada à construção de ambientes corporativos que funcionem como ferramenta para que as empresas ganhem em produtividade, é uma das responsáveis pela realização do Neurotraces, evento que foi organizado em Porto Alegre (RS) em outubro do ano passado para a troca de informações sobre a relação entre neurociência e arquitetura.
Consultora internacional de qualidade em ambientes de trabalho, Priscilla reforça, sempre que participa de debates e de palestras, a importância de projetar de uma forma mais humana. Em seus discursos, aborda constantemente o impacto da arquitetura no cérebro dos profissionais, o conceito da qualidade corporativa, e estratégias ambientais que promovem produtividade e humanização.
Como exemplo da interação entre espaço e cérebro, o livro Neuroeducação: só é possível aprender aquilo que se ama, lançado em 2010 por Francisco Mora, aborda em um de seus capítulos a importância do ambiente escolar para o aprendizado ideal dos alunos. Na publicação, o especialista fala sobre como salas de aula amplas, com muita luz natural proveniente de janelas grandiosas, fazem com que o rendimento do estudante melhore significativamente. Em entrevista recente ao El País, Mora cita a neuroarquitetura: “há um movimento muito interessante que é o da neuroarquitetura, que visa à criação de escolas com formas inovadoras que gerem bem-estar enquanto se aprende. Novos edifícios nos quais, embora seja importante seu desenho arquitetônico, a luz seja contemplada, assim como a temperatura e o ruído, que tanto afetam o rendimento mental”.
Uma das formas mais eficazes de utilizar a neuroarquitetura no ambiente é explorando os cinco sentidos humanos. Veja AQUI as dicas, neste outro artigo.
Está interessado em entender mais a fundo sobre neuroarquitetura? O site da ANFA disponibilizou diversas palestras da conferência de 2016. Clique AQUI para acessar. Além disso, alguns profissionais do ramo publicaram livros que se tornaram referência. Um deles é Anjan Chatterjee, escritor de The Aesthetic Brain (O Cérebro Estético, em tradução livre para o português), obra lançada em 2013. Neurocientista, Chatterjee é membro do Centro de Neurociência Cognitiva e palestrou no TED falando sobre “Como o cérebro decide o que é bonito”. A palestra, de apenas 15 minutos, é inspiradora e pode ser assistida clicando AQUI.
Podemos resumir dizendo que a neuroarquitetura refere-se ao estudo da neurociência aplicada à arquitetura, auxiliando no projeto de espaços estratégicos para influenciar o comportamento das pessoas.