*por Lisandra Mascotto
Estou sempre atenda às tendências globais que passam a refletir no mobiliário, principalmente para uso no segmento corporativo. E com este intuito estive novamente na Feira de Milão na Itália, que aconteceu de 18 a 23 de abril de 2023.
Meu objetivo com este artigo é compartilhar minhas percepções sobre o que observei e analisei durante essa semana que estive por lá. E pela primeira vez, em todos esses anos em que visito a Feira, percebo que não há uma tendência muito definida.
O que presenciei foram novas versões de movimentos e tendências já demonstrados em outros eventos, como na Feira Orgatec da Alemanha, por exemplo, que ocorreu no final do ano passado.
Tenho uma forte percepção de que o importante atualmente na criação de espaços é o “significado”. Ou seja, o que realmente faz sentido para cada tipo de situação, momento e para as pessoas que utilizarão o espaço. Isso seja no âmbito residencial, expandindo-se para o corporativo, que é o meu olhar principal.
Durante a semana, tive a oportunidade de assistir uma palestra do consultor brasileiro Carlos Ferreirinha, fundador da MCF Consultoria – uma das principais empresas de consultoria em luxo da América Latina -, que falou sobre comportamento global e como os produtos e marcas podem atender os anseios do momento.
Organizada pelo Club&Casa Design, a palestra ocorreu em Milão mesmo e o conteúdo confirmou minhas percepções, acrescentou insights interessantes e me inspirou a realizar uma conexão com diversos cenários e produtos que visualizei na Feira.
Cenário das Incertezas
Estamos vivendo no mundo um momento de “Limite de Incertezas”. Isso mesmo, nós estamos neste ponto. A famosa frase “assim caminha a humanidade” é coisa de um passado distante e não se aplica nesse momento.
Não há certezas absolutas sobre para onde a humanidade está caminhando. Para onde nos levará tanta tecnologia? E os negócios, os mercados, as nações, as guerras, as pandemias, as novas gerações, enfim, um mar de incertezas.
“ …. Em um mundo de complexidade , precisamos resgatar nossa humanidade para decidir entre decisões imperfeitas e nos ajustar à mudanças inesperadas.”
Rania Al Abdullah – Rainha da Jordânia
O desafio atual não é apenas tentar prever o futuro. É sobre estar aberto também para reagir rápido ao que vier pela frente. Um cenário de aprendizado pós-pandemia no qual tivemos que nos reinventar em pouco tempo.
Na Feira, ficou muito evidente que essa “mentalidade de estar aberto à mudança” – e ser flexível – foi transferida para o design do mobiliário.
Temos assim o mobiliário multiuso, flexível, mutante e que favorece a mobilidade. Conceitos que também vão ao encontro da mentalidade da geração Z e Alpha, os nascidos a partir de 1995, e que já possuem um comportamento nativo que envolve a flexibilidade, as atividades colaborativas e o “fazer com propósito”.
Valor ao artístico e exclusivo
Outro conceito bem presente na Feira é a valorização da criação de produtos com viés artístico: “Art is everywhere”. Tudo o que for feito com caráter exclusivo e de forma mais artesanal terá um valor ainda mais singular.
A importância de colocar uma personalidade em um produto para criar um propósito e transmitir uma ideia. Isso se torna um grande diferencial para as marcas se aproximarem das pessoas, gerando uma conexão.
Cores da felicidade
A Feira toda está repleta de produtos das mais diversas cores, de tons terrosos, neutros à cores vibrantes, mas podemos destacar uma combinação bem interessante e que vem contribuir para melhorar este “caminho de incertezas”.
Tendência de tons como mostarda e verde oliva pode ser considerada como destaque desta busca pela leveza em torno da felicidade.
São tons divertidos, alegres e principalmente quando estão juntos fazem uma composição única e criativa. Como podemos ver em algumas imagens da Feira.
Precisamos mudar o Algoritmo
Como vivenciamos em nosso dia a dia, a tecnologia está numa crescente de proporções quase inimagináveis, principalmente agora com as perspectivas na inteligência artificial. O que é válido para o progresso de diversos aspectos da sociedade, sem dúvida.
A questão é que tanta tecnologia está causando um efeito reverso, uma busca pela essência humana.
Como foi mencionado no início, o momento está complexo e é necessário o resgate da essência, do real, do autêntico, do humano. Dessa forma, a leveza, a diversão e o relaxamento estão colocados como ativadores dessa essência que precisa ser alcançada em todos os âmbitos. E quando um ambiente é preparado com esse objetivo se torna um potencializador de bem-estar.
Independente de tendências, as escolhas de móveis, cores, texturas, formas e layout devem ser movidas pelos sentimentos a serem transmitidos aos ocupantes do local. Pensar dessa forma nos ajudará a criar espaços melhores, que realmente façam sentido para as pessoas.
Enquanto o mundo está cada vez mais tecnológico, é necessário um resgate para a nossa natureza, para não nos esquecermos daquilo que nos torna humanos: nossas emoções.
Acredito que esse seja o maior insight da Feira esse ano, a busca pela nossa essência enquanto seres humanos. Se isso não nos retirar desse “limite de incertezas”, ao menos nos colocará num bom caminho de realização pessoal.
* Lisandra Mascotto, da RS Design, é especialista em mobiliário corporativo, tem mais de 25 anos de experiência no segmento e atua com conceitos que estimulam conexões entre as pessoas, por meio do mobiliário, colaborando em projetos corporativos humanizados e funcionais.